Invadindo o baú: Entrevista exclusiva com o presidente do IHGSE

Por fevereiro 23, 2017 0 comentários



O blogueiro curioso, em mais uma edição do quadro "Invadindo o baú", entrevistou o grande intelectual sergipano, Samuel Albuquerque, atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe - IHGSE, e Professor Doutor da Universidade Federal de Sergipe - UFS. Em pauta a sua trajetória nos caminhos da intelectualidade, desde a sua graduação até a sua louvável gestão no IHGSE. 

Não é fácil presidir uma entidade centenária, com o maior e mais importante acervo sobre a história e a cultura do estado, contando com ínfimos recursos e tão poucos parceiros. (Samuel Albuquerque)


Confira na íntegra:

Prof. Dr. Samuel Albuquerque. (Foto: Diego de Souza)




(Jotta) Para começarmos, gostaria que pontuasse uma frase de que mais gosta.

(SA) Não tenho uma frase predileta. Aprecio, no geral, frases curtas e plenas em significados. Como ávido leitor de Machado de Assis, sempre anoto e divulgo nas redes sociais, frases pouco conhecidas suas, constantes em obras menos divulgadas do “bruxo do Cosme Velho”. Faço o mesmo com provérbios tradicionais nordestinos e até passagens bíblicas. Quem visitar, por exemplo, o meu perfil no Facebook, encontrará essas frases machadianas, provérbios populares, passagens bíblicas... que chamam a minha atenção.



(Jotta) Um sonho...

(SA) Morrer bem velho, lúcido e saudável, depois de escrever tudo que planejo escrever.



(Jotta) Quem é Samuel Albuquerque? Conte-nos um pouco sobre sua história de vida, alinhando ao tempo a sua trajetória nos caminhos da intelectualidade.

(SA) Já tive a honra de ter um perfil biográfico escrito pelo historiador Ibarê Dantas, em seu livro “História da Casa de Sergipe” (2012). Em linhas gerais, sou um historiador e professor de História, que atua na Universidade Federal de Sergipe (Campus de Laranjeiras) como professor de História do Brasil e História de Sergipe. No mais, presido o centenário Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe – IHGSE desde princípios de 2010. Sou pernambucano de nascimento, cresci e vivo até hoje no querido estado de Sergipe, de quem muito recebi e recebo. Formei-me em História (2004) e fiz mestrado em Educação (2007) na Universidade Federal de Sergipe - UFS, doutorei-me em História (2013) na Universidade Federal da Bahia – UFBA. Não sendo casado e não tendo filhos, meus principais rebentos são meus textos historiográficos, entre os quais destaco os livros “Memórias de dona Sinhá” (2005), “Nas memórias de Aurélia: cotidiano feminino no Rio de Janeiro do século XIX” (2015) e “A carta da condessa: família, mulheres e educação no Brasil do século XIX” (2016), todos tratando, prioritariamente, do Brasil do século XIX.



(Jotta) Por que decidiu entrar para o curso de História? Alguma influência?

(SA) Certamente fui influenciado pelo ambiente doméstico. Cresci no interior de Sergipe, na cidade de Poço Redondo, em uma casa repleta de livros (principalmente livros de Literatura e de História), tendo uma mãe professora de História e um padrasto memorialista e escritor de renome. Era assim, um ambiente de muita leitura, boas discussões e muita música. Aos poucos fui desenvolvendo o gosto pela História e pela Memória. A História foi a melhor escolha que fiz. Sou muito satisfeito com o meu ofício de historiador e professor. Além disso, penso estar produzindo um legado intelectual que contribuirá com a Historiografia do meu estado e quiçá do Brasil.



(Jotta) Como se emanou a sua entrada no IHGSE, sobretudo, na presidência?

(SA) Desde a época da graduação em História, enquanto estudante/pesquisador, aproximei-me da Casa de Sergipe, como o IHGSE é carinhosamente conhecido. Cheguei ainda como estudante (um fato raríssimo) a publicar um artigo científico em sua tradicional Revista, a mais antiga em circulação no estado. Terminada a graduação, fui estimulado pela então vice-presidente do IHGSE Terezinha Oliva, pessoa que mais marcou minha trajetória de formação em História e de quem fui aluno e orientando, a pleitear uma vaga no quadro de sócios do Instituto. Meu pleito foi aprovado, tornei-me sócio e, pouco tempo depois, passei à editor da Revista do IHGSE, função que ocupei até janeiro de 2010, quando assumi a presidência da entidade.

(Jotta) Quais foram os maiores desafios enfrentados à frente do IHGSE?


(SA) Foram e são tantos..., que nem saberia elencar. Não é fácil presidir uma entidade centenária, com o maior e mais importante acervo sobre a história e a cultura do estado, contando com ínfimos recursos e tão poucos parceiros. Mas, diria que meu maior desafio vem sendo reeditar as obras clássicas sobre a história, a geografia e a cultura de Sergipe, na bem-sucedida coleção Biblioteca Casa de Sergipe, que vem lançando novos títulos desde 2012. Já publicamos mais de uma dezena de títulos que estavam fora de circulação há décadas, como a História de Sergipe (1891) de Felisbelo Freire.



(Jotta) Como é ter uma gestão no IHGSE altamente relevante, no que tange à construção de história e a preservação da memória sergipana? Conte-nos essa sensação...

(SA) Em uma só palavra, é um desafio, seja pela importância histórica da instituição e seu acervo, seja pelas dificuldades enfrentadas para manter esse acervo, os serviços prestados e o relevante papel do IHGSE em nossa sociedade. 


Prof. Dr. Samuel Albuquerque. (Foto: Divulgação/ASN)

(Jotta) Historiador ou professor?

(SA) Ambos. Em mim o historiador só se realiza plenamente com os diálogos mantidos em sala de aula e a renovação que disso decorre.



(Jotta) Em sua opinião, por que é tão difícil ensinar História?

(SA) Não considero que seja tão difícil ensinar História. Considero que, assim como todo ofício, o de professor de história requer empenho e dedicação, para que o resultado seja bom. Basicamente, é preciso ler muito, acompanhar a renovação do debate historiográfico, planejar suas aulas com atenção e ter amor pelo ofício. É basicamente o que professores de outras disciplinas precisam também fazer. Preguiça e comodismo não rimam com a boa docência.



(Jotta) Professor, porventura, se pudesse intervir em alguma coisa na História de Sergipe, qual seria a sua intervenção?

(SA) Como você grafou História com H maiúsculo, indicando conhecimento histórico e não processo histórico, diria que gostaria de reescrever a História de Sergipe Oitocentista, legando uma grande síntese, que enfatizasse a vida privada e as práticas culturais dos sergipanos e sergipanas do passado.



(Jotta) A sala de aula é...

(SA) A dor e a delícia do professor.



(Jotta) Corrupção no congresso: reflexo da sociedade brasileira?


(SA) Sem dúvida.



(Jotta) Muito grato e honrado pela aceitação desta. Agora, gostaria que deixasse suas considerações finais aos leitores deste e, na oportunidade, deixasse uma mensagem àqueles que almejam entrar para a docência.




(SA) Grato pelo convite, assinalo que a docência é um ofício para os que desenvolvem prazer em exercê-lo. Não se acheguem ao campo por falta de opções melhores ou falta competência para trilhar por outros caminhos. A docência precisa de pessoas apaixonadas e comprometidas com o ofício. Se não é sua “primeira opção” vá bater em outra porta e seja feliz.



*Esta entrevista serviu ainda para coleta de dados de um artigo científico deste que lhes escreve e está em constante construção.

Jotta Matheus

O autor

Há quatro anos na coluna social, abordando e denunciando fatos e atos da sociedade, Jotta tem sua trajetória marcada pela atuação em rádio, onde se qualificou e aprimorou ainda mais os seus talentos na comunicação. Sua paixão pelo blog se emanou depois de ser, pela 1ª vez, entrevistado por Dafnne Victoriah, jornalista e colunista da Amanhecer FM. Alegre e espontâneo, com ele a falsidade e as molduras da mentira, não têm vez!

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