'Agora de fato eu sou uma mulher', diz Transexual de Canindé de São Francisco/SE após nova identidade

Por agosto 05, 2015 0 comentários


A transexual Dafnne Victoriah do Nascimento, em entrevista exclusiva para o blog, falou abertamente sobre sua mudança de nome e gênero revelando tudo para o blogueiro curioso. 




Dafnne Victoriah segurando novo RG. (Foto: Jotta Matheus) 

Nova identidade: "Uma Nova vida, é um começar denovo. Finalmente eu tive o meu direito respeitado, não apenas perante a lei mas toda sociedade. Agora de fato eu sou uma mulher."

A ação de Retificação de Registro Civil para mudança de sexo e de prenome, proposta pelo advogado Vanderson Moura dos Santos, foi acompanhada pelo juiz Nelson Humberto Madeira da Silveira, da 28ª Vara Cível de Aracaju. A decisão do TJ/SE é considerada histórica entre os tribunais e abre oportunidade para que outras pessoas possam ter o mesmo direito reconhecido. Sobre o processo Dafnne disse: "A minha luta para conseguir um direito que é meu, começou em 2010 quando fui fazer jornalismo pela UFS [Universidade Federal de Sergipe] numa cidade que eu não conhecia, que era Aracaju [SE]. Era desconfortável ser uma mulher e ter meus documentos com os nomes que não condiziam com minha realidade. Então fiz terapias e procurei a defensoria pública e então começou o processo. Na primeira audiência em meados de 2011 não consegui as mudanças. Continuei persistindo e dei entrada mais uma vez no processo em janeiro deste ano. E no dia 04 de  julho aconteceu mais uma audiência, até que saiu a sentença, onde o juiz me deu o direito de mudar o nome e o gênero. Nós precisamos ter  fé. Tudo acontece no tempo certo, sou uma guerreira!"

Dafnne Victoriah. (Foto: Reprodução/Facebook)
Dafnne falou que teria descobrido cedo sobre sua sexualidade: "Já começou na minha infância entre 4 e 5 anos, eu já sabia que era mulher. Minha mãe colocava roupas de meninos e eu dizia que não gostava. Eu tinha irmão mais velho que eu - mas eu não queria brincar com ele, queria brincar com minhas irmãs. Daí começou a minha luta, eu percebi que eu era diferente, que eu era mulher." Disse.
Após se assumir como uma transexual ela falou que as reações das pessoas não foram boas: "Eu já sabia que era uma mulher, já estava concretizada. Mas as pessoas não agiram bem, lá em casa foi aquele maior 'auê', alguns 'amigos' se afastaram, algumas pessoas deram as costas - claro que o preconceito aumentou, pois eu já comecera a mim expor como mulher na sociedade. Mas hoje está tudo bem lá em casa, tudo me aceita de boa e me respeitam. Quero deixar bem claro que em momento algum eu disse para as pessoas me amarem, eu quero é que me respeitem pois respeito a todos." 
Ela contou que não sentiu dificuldades para o mercado de trabalho pois sempre estudou, que, como uma transexual precisava procurar seu lugar, estudar para ser inserida na sociedade. Ela disse: "Nós somos muito marginalizadas, eu não concordo que outra transexual não possa ser uma professora, uma presidenta, uma governadora. Pelo contrário ela é uma mulher comum, uma cidadã comum, uma pessoa comum. Eu não passei por isso porque sempre busquei estudar, me formalizar. Mas teve um episódio aqui em Canindé: uma entrevista de emprego, inclusive de um grande empresário da região, eu mandei meu currículo, ele adorou e me ligou mas quando cheguei lá, ele me viu pessoalmente e simplesmente me desprezou. Eu acho que foi por eu ser uma transexual, mas esse foi o único episódio.

Dafnne Victoriah. (Foto: Reprodução/Facebook)
Dafnne fez hormonioterapia (tratamento a base de hormônio) em 2011 para ficar cada vez mais feminina e terapia entre 2008 e 2009, para poder se fortalecer nas lutas cotidianas. Ela não fez cirurgia plástica mas pretende um dia colocar silicone nos seios.

Perguntei se ela já havia levado cantadas de homens que pensaram dela ser uma mulher convencional e não uma transexual, ela disse: "Diversas vezes Matheus! É muito comum, e também é muito engraçado na parte quando revelo que sou uma transexual. Isso faz parte do meu cotidiano".

Hoje ela não se senti totalmente feliz e realizada e sobre a cirugia de mudança de sexo foi categórica: "Quando começou minha luta para ser uma mulher já estava inclusa no pacote a cirurgia. Pois se eu não mudar de sexo eu vou ser uma mulher incompleta e eu não quero isso pra mim. Quero ser plenamente feliz, completa e realizada." Depois da cirurgia o maior sonho de Dafnne é casar e ter filhos.

Dafnne foi envolvida em uma polêmica recentemente, quando exporam sua imagem em vídeos ofensivos chamando-a de velha, vagabunda e prostituta, atitudes contrárias aos direitos humanos e a dignidade que incitam o preconceito e a violência contra transexuais. Sobre isso ela defendeu-se: "Eu sei quem foram os autores, a polícia também sabe, porém não fazem nada. São pessoas invejosas, seres desprezíveis, sem moral. Foi feio pra elas porque o povo de Canindé me conhece e sabe da minha imagem, da minha conduta, do meu caráter, da minha índole. Eu fiz a minha parte como cidadã, fui na delegacia, prestei queixa porém a justiça canindeense é inoperante. Eu tenho uma imagem, tenho 10 anos de jornalismo em Canindé, atuo no rádio e é normal que surjam difamações, mentiras ou polêmicas envolvendo meu nome! Isso é desumano, monstruoso, rídiculo. Mas um dia a verdade virá a tona e os culpados serão punidos. Tudo tem o tempo certo de acontecer e eu sei que existe um Deus fiel e maraviolhoso que nunca desempara seus filhos."

Ao falar o significado do nome Dafnne Victoriah, disse: "Já usava o nome de Victoriah a muito tempo. Victoriah porque é uma mulher vitoriosa, é uma mulher forte, corajosa. E na minha luta, embora tivessem momentos de fraqueza, não desiste jamais. Então quiz o Victoriah. E depois na novela Caras & Bocas surgiu Dafnne. Então resolvi colocar Dafnne Victoriah, porque quando eu via Dafnne - aquela mulher linda, maravilhosa, educada, gentil, destemida, ia ao encontro do que eu pensava sobre mim. E Dafnne é uma deusa da mitologia grega, uma mulher guerreira igual a Victoriah. Então fiz a junção e ficou assim."

Dafnne durante seu programa na Amanhecer Fm .
(Foto: acervo fmamanhecer.com | Carluz Lima)
Ao encerrar a entrevista, Dafnne deixou um recado para nós, falando da liberdade de expressão de orientação sexual: "Que a sociedade abra mais a mente, veja as pessoas não pela aparência mas pelo caráter, pelo coração. Que a sociedade seja mais humana, que acolha mais a sociedade LGBTs [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros] porque o mundo ele é cheio de diversidades, as pessoas não são iguais então precisamos respeitar. Não quero obrigar ninguém a me amar só quero que me respeitem porque sou uma cidadã comum, eu pago imposto como todos, eu trabalho, pago minhas contas em dia. Quero dizer que as pessoas tenham respeito pelas outras, tenham amor pelo próximo, só isso!"

A colunista social e de variedades, comunicadora de rádio e estudante de Letras Português/Espanhol, é um exemplo de cidadania. Além de corajosa - pois teve coragem para mudar fisicamente e socialmente, é sobretudo uma guerreira, venceu as adversidades quando fora envolvida em várias polêmicas, foi persistente e acima de tudo forte para superar e seguir em frente.





























Jotta Matheus

O autor

Há quatro anos na coluna social, abordando e denunciando fatos e atos da sociedade, Jotta tem sua trajetória marcada pela atuação em rádio, onde se qualificou e aprimorou ainda mais os seus talentos na comunicação. Sua paixão pelo blog se emanou depois de ser, pela 1ª vez, entrevistado por Dafnne Victoriah, jornalista e colunista da Amanhecer FM. Alegre e espontâneo, com ele a falsidade e as molduras da mentira, não têm vez!

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